Paulo aqui expõe algo sobre esta verdadeira liberdade que encontramos quando, paradoxalmente, nos tornamos prisioneiros de Jesus Cristo. Em Ef 3.1, Paulo diz:
Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios,
Compreendamos tais palavras passo a passo.
Por esta causa
A causa sobre a qual Paulo escreve está ligada ao amor de Deus que ultrapassa o tempo e a história e ao poder de Deus em trazer à vida pessoas sem esperança e salvação, libertando-as de sua morte espiritual.
A causa da preocupação de Paulo era trazer os efésios para mais perto de Deus e afastá-los de tudo o que apenas cooperava para distanciá-los cada vez mais do soberano Deus que os salvou e protegia em meio às aflições que os cristãos no mundo todo passavam por aqueles dias.
Todos vivem por uma causa. Cristãos ou não-cristãos, todos vivem e morrem sobre uma causa. Consciente ou inconscientemente, todos compram, orçam, relacionam-se, sonham, agem, baseados em uma causa que, nem sempre, é clara e aparente aos tais.
É neste sentido que a causa de Paulo é Cristo. Cristo é o fundamento sobre o qual ele está. Em suas palavras anteriores aos efésios, Paulo comentou sobre o fundamento dos apóstolos e profetas sobre o qual toda igreja está construída. Paulo, como mais um membro deste grande corpo e edifício, também tem sua vida construída sobre Jesus.
É por causa de Cristo, e pela causa de Cristo, que Paulo agora lhes escrevia. Não apenas por ter sido alcançado por este amor imerecido e liberto pelo poder desta misericórdia, mas também pela certeza de que o Senhor havia o chamado para espalhar a mensagem deste amor.
E foi em amor que Paulo lhes escreveu. A causa está relacionada a este amor, tanto por Cristo quanto pelos efésios e todos os demais gentios. Por causa deste amor por eles e da pregação deste evangelho, Paulo agora estava preso.
A ‘razão’ também está relacionada com o novo plano em que judeus e gentios agora estão colocados. E a razão dessa união e inseparabilidade entre os convertidos se dá pelo fato do Senhor ter os escolhido desde antes da fundação do mundo.?1 Ele são obra de Deus, fruto do poder de Deus. A graça de Deus é abundante também sobre os gentios. Eles nunca deveriam se esquecer disso.
eu, Paulo, sou o prisioneiro
Paulo estava preso em Roma por causa de seu serviço no reino de Deus, e mais especificamente por causa de seu serviço entre os gentios (2Tm 1.11-12). Muitos judeus se levantaram contra Paulo por causa de sua pregação. Vinha dos judeus a maior parte das acusações falsas sobre o apóstolo, as quais incitavam governos e “forças policiais” a se levantarem contra Paulo para prenderem-no. A força da oposição dos judeus contra Paulo acabou ocasionando um ataque contra sua pessoa na cidade de Jerusalém e consequente prisão que o levou primeiramente a Cesareia e depois a Roma, de onde escreveu esta carta.?2
A prisão de Paulo não o fazia sofrer por causa dela em si. A aflição trazida pela prisão não significou tristeza para Paulo. Embora não deixasse de ser tribulação, havia paz em sua alma. Por isso Paulo não reclama, embora recorde de sua situação de prisioneiro. Assim, textos como os seguintes servem para nos recordar o que nossos irmãos quando sofriam tinham em mente:
Apocalipse 2.10: Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.
Colossenses 4.3: Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado;
Embora, a aflição seja certa, nenhum deles a trocaria pela paz e alívio deste mundo, momentâneos, mas que se dissipam com o tempo. O foco deles estava na eternidade. Era nela que eles pensavam. Os sofrimentos do tempo presente não se podem comparar com o que estava preparado para eles em seu futuro:
Romanos 8.18: Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós.
Paulo se via como um prisioneiro, mas não prisioneiro de um império, e sim prisioneiro de um homem, Jesus Cristo. Assim ele continua:
de Cristo Jesus,
Paulo estava ligado a Cristo, amarrado a Jesus, atado com laços de amor, a ponto de se considerar um escravo (??????) de nosso Senhor. Estar ligado dessa forma a Cristo é estar verdadeiramente liberto. Só quem está preso a Cristo é verdadeiramente livre. Quem supostamente está “livre” de Cristo são os que verdadeiramente estão escravos de seus vícios e pecados. Só Cristo nos liberta. Ele é a verdade que nossa alma tanto anseia e busca em tantas coisas e pessoas. Só nele encontramos verdadeiro e pleno descanso.
Paulo se considera um prisioneiro de Cristo Jesus. E isso é razão da liberdade de Paulo, da plena alegria em sua vida e história. Se alguém não está ‘acorrentado’ a Cristo, como um prisioneiro ou escravo, tal pessoa está acorrentada a outro senhor ou prisão. Consciente ou inconscientemente, todos estão presos a algo ou alguém. E só as correntes que nos atam a Cristo nos trazem paz e liberdade.
por amor de vós, gentios,
Literalmente, Paulo escreveu: “Por causa de vós, das etnias”. As etnias aqui descritas dizem respeito aos gentios que tanto sofriam por causa do preconceito dos judeus. Agora, todas as etnias do mundo seriam alcançadas pelo Evangelho.
O amor de Paulo pelo Senhor Jesus o levou a morrer para si e para o mundo levando o Evangelho a todos os não-judeus. Isso fez com que ele encontrasse a prisão em várias ocasiões. Quando estamos atados a Cristo, amando-o com todo o nosso coração e alma, estamos sempre prontos a falar dessa paz a todos que nos perguntam sobre ela.
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1 Harold W. Hoehner, “Ephesians”, in The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures, ed. J. F. Walvoord e R. B. Zuck, vol. 2 (Wheaton, IL: Victor Books, 1985), 628.
2 Harold W. Hoehner, “Ephesians”, in The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures, ed. J. F. Walvoord e R. B. Zuck, vol. 2 (Wheaton, IL: Victor Books, 1985), 628.