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Por Livan Chiroma

Foi perguntado a certo moço se, caso recebesse 1 bilhão de dólares, em qual tipo de projeto investiria. Li esta historieta em um livro, me esqueci de que obra era e a lição de moral que foi extraída deste fato, mas a ilustração me serviu para introduzir o texto e perguntar: E você, o que faria? Pense: Não é uma resposta simples. Através da lei de acesso a informação, A Folha publicou os dados relativos ao perfil financeiro das religiões cristãs do Brasil. As Igrejas Brasileiras (Incluindo católicas, evangélicas, etc.) receberam, através de dízimos e oferta, em 2011, cerca de 20 Bilhões de Reais. Em uma hermenêutica delirante, pensei , como um “louco” e teólogo de formação que sou, o que o Jesus histórico, aquele mesmo que andava com os marginais (aqueles da margem) e que também “não tinha onde reclinar sua cabeça”, faria com esta grana.

Sem soluções fáceis a você leitor, que poderia prever que neste parágrafo, eu obviamente construiria o argumento de que ele [Jesus] não construiria templos, resistiria a tentação de comprar iates, mansões, jatos e também não se preocuparia fundamentalmente com seu próprio salário. Seria altruísta, a despeito da cristandade ocidental, “templária” e bilionária, a ponto de doar e ceder “sua própria vida em favor de todos” . É fácil construir um perfil do salvador, mas eu sei que eu correria o risco do texto ser taxado de “teólogo da libertação” ou da missão integral. Então, o que quero mesmo é uma espécie de exercício: proponho à você a leitura dos textos da escrituras, sobretudo os evangelhos. Observe como os verbetes “dividir”, “doar”, “repartir”, “generosidade” aparecem; sugiro: leia, reflita.

Minha preocupação neste momento recai na exacerbada inclinação da atuação religiosa estritamente litúrgica, teórica, sem vida ou que fomentam discussões irrelevantes, vazias, uma “teologia para teólogos”. Evidentemente, o exercício da reflexão acadêmica, através de modelos simulados da realidade levam a superação dos antigos formatos e a concepção de novos paradigmas. Em qualquer atividade e disciplinas, seja na teologia, antropologia, ciências médicas, etc. o debates, conflitos, controvérsias e soluções são fundamentais para o avanço da própria área. Porém penso que o exercício da fé e da experiência cristã propõe contemplar bem mais que os “laboratórios” e “gabinetes”, volta-se à comunidade. Os textos bíblicos eram voltados e produzidos por pessoas, além de comunidades. com problemas sociais e existenciais reais. Foram redigidos em um modelo “teologia para o povo”. Por conseguinte, a atuação religiosa, sobretudo no tocante do cristianismo, cujo viés máximo é surgimento de Novos homens e mulheres mais ávidos à vida comunitária e a resolução dos problemas urbanos (solidariedade), seja individualmente ou através de sua comunidade de fé, através da observação do modelo da liderança de Jesus Cristo de Nazaré, creio que estamos diante de um novo protagonismo social, menos discurso e mais atitudes voltadas ao próximo. “A letra mata e o espírito vivifica”.

Prossigo.

Certas questões da “Teologia” assemelha-se a polêmica em torno da questão da forma das quais os ovos devem ser quebrados, na Lilliput de Jonathan Swift (“Viagens de Gulliver”). Adquire o tom cômico da Guerra dos Ovos: Alguns desejam quebrar os ovos “por cima”, pelo topo, outros dizem que os ovos tradicionalmente devem ser abertos a partir de sua base; para estes, é esta é a verdade absoluta. Na obra de Swift, existe uma beligerância estatal e jurídica ao redor desta questão, causando uma guerra a divisão das etnias. A questão dos ovos ganhara o status de ciência e deliberadora da verdade. A comicidade só não é completa, porque alguns debates similares (verdadeiras “miragens”) realmente acontecem por aqui. O cristianismo ocupa uma densidade significativa no quadro das religiões no Brasil, e difícil entender como criam-se miragens “doutrinárias” e o tempo, foco, polêmicas, paixão e rotinas dadas à elas. “… mata … vivifica”.

Lembro de a Legião Urbana: “Enquanto o caos segue em frente, com toda calma do mundo”. O cristianismo, teoricamente, “confunde o caos”: organiza os sistemas, harmoniza o chão da sociedade. Constrói pontes, ao invés de rompe-las pela defesa de filigramas simplesmente irrelevantes ao homem moderno. Que a atuação do ser cristão seja de construidor de pontes ao invés de defensores dos ovos alheios.

O mundo não está muito bem, quais os modelos de cura?

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Livan Chiroma é comunicólogo, Teólogo e Antropologo Cultural (graduando-Unicamp). Mestre em Ciências da Religião, e escreve no blog Polis Centro.

Fonte: Púlpito Cristão