Por Pr. Silas Figueira
Texto Base: Macos 4.35-41
INTRODUÇÃO
Ora, esse incidente notável realça a importância vital de distinguir entre o dom da fé original – fé para a salvação –, e o andar pela fé, ou vida de fé que vem subsequentemente. A fé que recebemos tem que ser desenvolvida, pois andar por fé não é andar pelo que vemos, mas pelo que não vemos. Como nos fala Paulo em Romanos 8.24: “Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera?”
Algumas considerações:
A narrativa de Marcos é mais vívida, contendo detalhes que os outros omitem. Somente Marcos fala da travessia de vários barcos, bem como da despedida das multidões que foram instruídas por Ele. Certamente esses outros barcos eram de outros discípulos que o acompanhavam e, provavelmente, dos setenta discípulos que foram enviados por Ele posteriormente em certa ocasião.
O texto nos informa que Jesus estava no barco com os apóstolos e estava dormindo sobre um travesseiro. Jesus estava fadigado. Tão cansado que adormeceu. Vemos aqui que não há nenhuma dúvida de Sua humanidade. Mas no momento em que Ele se levanta e acalma a tempestade os discípulos questionam quem é Ele. JESUS ERA HOMEM E NO ENTANTO GLORIOSAMENTE DEUS. Jesus foi 100% homem e 100% Deus. Deus e homem, duas naturezas, sem se misturar, e, no entanto, residentes na mesma pessoa.
Esse episódio ocorreu no Mar da Galiléia, um lago de águas doces, de 21 quilômetros de comprimento por quatorze de largura, a 220 metros abaixo do nível do Mar Mediterrâneo e é cercado por três montanhas, que têm até trezentos metros de altura. Os ventos gelados do Monte Hermom (2.790m), coberto de neve durante todo o ano, algumas vezes, descem ventos fortes com fúria que batem nas outras montanhas e assim caindo sobre o lago provocam ondas e terríveis tempestades.
Analisemos o texto e algumas lições que podemos tirar dele:
A PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE MESMO COM JESUS EM NOSSO BARCO AS TEMPESTADES VEEM (Mc 4.37,38).
Enquanto Jesus dormia se levantou grande tempestade de vento. O termo que Mateus trás é como se fosse um maremoto. “E eis que sobreveio no mar uma grande tempestade, de sorte que o barco era varrido pelas ondas” (Mt 8.24). Não um vento forte simplesmente, mas um vendo que os discípulos pensaram que fossem morrer no mar. Isso nos mostra que uma pequena brisa pode transformar-se em um tufão (At 27.13-15). Não é por Jesus estar em nosso barco que não seremos atingidos pelas tempestades da vida, mas com Ele no barco temos esperança que chegaremos do outro lado do mar. O problema não são as tempestades da vida, mas como reagimos diante delas.
1º – Existem quatro tipos de tempestades:
1 – As naturais – a tempestade que Paulo enfrentou é uma delas (At 27), e os discípulos também algumas durante o ministério de Jesus.
2 – As que nós provocamos – Jonas é um bom exemplo disso. Quando somos causadores de males para nós mesmos e para outras pessoas. Quando deixamos de obedecer a voz de Deus e passamos a seguir a nossa próprias vontade, as consequências são calamitosas.
3 – As que procedem do diabo – São as tentações da vida. Aquelas tempestades que vemos que não são naturais, que também sentimos que há algo errado, que não procede de Deus, mas tem a mão do diabo nisso. Jó passou por esse temporal.
4 – As que procedem de Deus – Um bom exemplo é o de Abraão quando vai oferecer Isaque em sacrifício; diz-nos o texto em Gênesis 22.1 que o Senhor pôs Abraão à prova. A provação procede de Deus, a tentação procede do diabo. A provação é para o nosso crescimento espiritual a tentação é para nossa queda. São as provas da vida que Deus permite que passemos para o nosso crescimento espiritual.
Mas as quatro tem algo em comum: todas elas são inesperadas. Elas não avisam quando virão. Elas chegam como um ladrão de forma inesperada. Elas não mandam recado. As tempestades da vida são: um acidente, uma enfermidade, uma crise financeira, um casamento abalado, uma crise familiar, um desemprego e porque não dizer uma crise espiritual.
Com isso aprendemos que quando a tempestade chegar ela não deveria nos surpreender, pois afinal de contas ela sempre vem. Na tempestade não devemos perguntar: “Porque eu”, como muitos fazem pensando ser melhores que os outros, mas dizer: “Socorre-me Senhor!”, reconhecendo a nossa dependência de Deus. Essa é a diferença.
2º – Elas sempre são perigosas. Os três evangelistas mostram isso de forma muito clara. Veja: Mateus diz que o barco era varrido pelas ondas (Mt 8.24). Marcos diz que se levantou grande temporal de vento, e as ondas se arremessavam contra o barco, de modo que já o mesmo estava a encher-se de água (Mc 4.37). Lucas diz que sobreveio uma tempestade de vento no lago, correndo eles o risco de soçobrar (Lc 8.23).
Por mais brandas que elas possam parecer elas sempre são perigosas, pois afinal de contas a situação pode se agravar. É o caso de uma pessoa que conheço que foi no dermatologista levar o filho que estava com uma pequena verruga no pé, chegando lá a dermatologista lhes disse que aquela verruga na verdade era um câncer. Foi algo pequeno que se agigantou.
3º – Elas sempre revelam quatro tipos de pessoas. Se há algo revelador na vida são as tempestades. Elas revelam como verdadeiramente somos, pois na bonança não temos que revelar a nossa fé, mas na tempestade ela é fundamental.
Vejamos as quatro tipos de pessoas que podemos encontrar na hora da tempestade:
1º – Os que começam a agir para resolver a situação, mas não oram. Já tentam resolver logo o problema de forma impensada, ou melhor, sem a direção do Espírito Santo. Logo pegam na lata para tirar a água do barco.
2º – Os que oram, mas não agem. São pessoas muito espirituais, mas que não saem disso. Não tomam a iniciativa de agir. Muitas pessoas estão como Moisés diante do Mar Vermelho, estão clamando a Deus, mas não entendem que o período de clamar já havia passado e agora é hora de agir (Êx 14.15,16). Os que não pegam na lata para tirar a água, pois estão ocupados orando.
3º – Os que duvidam. Por isso nem oram e nem agem, pois são incrédulos. Os que não fazem nada, só murmuram e por isso criticam os que agem e os que oram. É aquele tipo de pessoa que só sabe dizer que havia avisado; que o barco vai afundar mesmo, que não tem jeito mesmo. São como a Hiena Hardy o tempo todo dizendo: “Oh, céus! Oh, vida! Oh, azar! Isso não vai dar certo!”
4º – Os que oram e agem e não vivem se lamentando. São pessoas que veem na tempestade a possibilidade de crescerem na fé. São pessoas que fazem da tempestade uma oportunidade para ajudar outros a vencerem-na. É o caso de Paulo (Fl 4.10-13).
A SEGUNDA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE NÃO IMPORTAM QUAIS SEJAM AS CIRCUNSTÊNCIAS, JESUS ESTÁ EM NOSSO BARCO (Mc 4.38,40).
Os discípulos estavam desesperados com a tempestade, tão desesperados que a impressão que temos é que por um momento eles haviam se esquecido de Jesus. É quando eles observam que Jesus estava dormindo em meio aos fortes ventos e no chacoalhar do barco em pleno mar; é quando eles resolvem chamá-lo, não para acalmar o mar e o vento, mas para ajudá-los na navegação, a tirar água do barco. Tanto que eles ficaram surpresos quando Jesus acalma a tempestade e perguntam: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4.41).
1º – A grande questão não é saber que Jesus está no barco, mas é saber que Ele tem todo poder para acalmar a tempestade e força do vento. Há pessoas que veem os seus problemas maiores que Deus. Acham que o Senhor não pode intervir na situação que estão enfrentando. Algumas pessoas pensam que seus problemas são tão grandes que até para Deus é difícil resolver, isso quando não pensam que é impossível.
Aqui que está a grande questão. Muitos servem ou veem o Senhor limitado, enclausurado dentro dos guetos teológicos. Tem gente que fala da soberania de Deus, mas não o veem como soberano em seus problemas. Limitam o seu poder e o seu agir ao tempo dos apóstolos, dos profetas, ou mais longe ainda, no período do deserto com Moisés. Eu sei que o Senhor age quando quer e sempre com um propósito definido no Seu agir. Por isso meu irmão não o limite, deixe Deus ser Deus em sua vida.
2º – É entender que Seu aparente sono não é descaso à nossa crise. O texto nos diz que Jesus estava dormindo, mas não era o sono do descaso, mas era um sono de um “homem” cansado. No entanto, não quer dizer que Ele não estava a par do que iria acontecer e do que estava acontecendo.
Hernandes Dias Lopes diz que “talvez o maior drama dos discípulos não tenha sido a tempestade, mas o fato de Jesus estar dormindo durante a tempestade”. Essa é, muitas vezes, a nossa crise também. Onde Ele está que não percebe a crise que estamos enfrentando? Onde Ele está que não intervém quando mais precisamos? Onde Ele está quando as tempestades veem? Tanto que a pergunta dos discípulos foi: “Mestre, não te importa que pereçamos?”
Eu quero lhe dizer que Ele está em seu barco, em meu barco, em nosso barco e Ele se importa com você e comigo sim. Ele não está dormindo o sono do descaso, mas permitindo a tempestade para olharmos para Ele. Se não houvesse a tempestade, provavelmente os discípulos se quer se lembrariam que Jesus estava ali. Por isso que o autor de Eclesiastes nos diz: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração” (Ec 7.2).
3º – Quando clamamos Ele vem e acalma a tempestade. Entenda que há duas tempestades: Uma interna e outra externa. A principal é a interna. É acalmar o nosso coração; tanto que o Senhor disse para os seus discípulos: “Não se turbe o vosso coração…” (Jo 14.1). Há duas maneiras de o Senhor tratar as nossas tempestades: uma é terminando com elas, a outra é nos preparando para enfrentá-la até o fim. Uma se chama substituição, a outra se chama transformação. De uma forma ou de outra há o agir de Deus em nosso problema.
A TERCEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE O SENHOR SEMPRE NOS SURPREENDE (Mc 4.39-41).
Independentemente da fé dos discípulos o Senhor agiu socorrendo-os. Eles o chamam não para acalmar a tempestade como já falamos, mas o Senhor criador dos céus e da terra sempre faz muito mais que do esperamos. Como nos diz Paulo em Efésios 3.20,21:
“Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!”
Através desse ocorrido o Senhor aproveitou para mostrar para os seus discípulos que Ele era mais que um profeta, um operador de milagres na vida das pessoas ou um mestre por natureza; mas o Deus encarnado que veio para lhes trazer vida e paz em meio às tempestades da vida.
Nesse episódio podemos tirar algumas lições que o Senhor deixou para os seus discípulos:
1º – Os maiores problemas humanos encontram-se dentro de cada um, não nas circunstâncias ao nosso redor. Por isso que o Senhor os repreendeu por sua falta de fé. O Senhor os chamou de “Homens de pequena fé”, “Tímidos” – literalmente “covardes”. Já haviam visto tantas coisas que o Senhor havia operado, mas mesmo assim continuavam incrédulos. Continuavam com uma fé deficiente.
O tempo parece que não ajuda no amadurecimento de algumas pessoas. Parece que o tempo passa e a pessoa não cresce na fé, pelo contrário continuam pigmeus na fé. Davi quando enfrentou o gigante Golias não o temeu porque havia enfrentado gigantes tão perigosos quanto aquele gigante incircunciso. A experiência de Davi o ajudou a ver o quanto Deus o ajudaria mais uma vez, por isso não se acovardou (1Sm 17.31-36).
Meu irmão nossas experiências passadas com o Senhor é para o nosso crescimento e não para o nosso encolhimento. O Deus que agiu ontem irá agir hoje e irá agir amanhã.
2º – Quando clamamos por Jesus ele nos atende ainda que sejamos tímidos na fé (Mc 4.39,40). O Senhor nos socorre por sua misericórdia e não pela nossa muita fé. Se dependesse dela, confesso que há muito já teríamos perecido.
Alguns anos atrás eu tive uma experiência que me marcou profundamente. Eu tenho um casal de filhos e quando eles eram pequenos eles estavam brincando dentro de casa. Um correndo atrás do outro, quando de repente minha filha mais velha se esconde no banheiro e fecha a porta. Nisso o meu filho leva a mão para impedi-la de fechá-la. Não deu outra, ele prendeu o dedo na porta e arrancou a unha. Imagine um menino de três anos com o dedo esmagado e com a unha pendurada. No meu impulso de pai eu impus as minhas mãos sobre a sua cabeça e gritei: “Em nome de Jesus dor deixa ele!”. Meu filho olha para mim em seguida e diz: “Pai, passou!” Passou? Perguntei espantado. Passou disse ele. Levei-o ao hospital e enquanto aguardava atendimento ele dormiu tranquilamente em meu colo. Quando a médica o atendeu viu que não havia quebrado o seu dedinho, mas que a unha iria cair, mas que eu ficasse tranquilo que nasceria outra em breve. Assim aconteceu.
Isso é só uma amostra do que eu tenho visto nesses anos que tenho de crente em Jesus e fora o que já vi em meu ministério. E olha que eu sou Batista Reformado, eu não sou pentecostal e nem neopentecostal, pois são esses que atestam tantos milagres.
3º – As experiência nos fazem crescer na fé (Mc 4.41). “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” As tempestades são pedagógicas, elas sempre têm algo a nos ensinar a respeito do nosso Deus. Aprendemos mais nelas do que quando não estamos passando por elas. Foi através desse episódio tremendo que os discípulos descobriram o quanto o Senhor Jesus era muito mais do que eles imaginavam. O Senhor se revelou na tempestade não na bonança.
A falta de fé vem por não conhecermos o nosso Deus como Ele realmente é. Foi isso que aconteceu com os discípulos naquela noite. Tanto que quando passa o medo da morte eles são acometidos por outro temor; o temor diante da deidade de Jesus.
Entenda uma coisa, não há como crescermos na fé sem passarmos pelas tempestades da vida. Nossa fé não irá desenvolver dentro do marasmo existencial, mas nas tormentas que a vida oferece.
4º – Nas bênçãos que o Senhor nos proporciona outros são abençoados também. Quando o mar se acalma os outros barcos também desfrutaram da bonança. A bênção do Senhor vem com tanta abundância que outros são abençoados também. Veja o que Paulo nos fala a respeito de um crente dentro de casa e o que acontece com os outros membros da família que não são crentes (1Co 7.14); estamos falando aqui de “santificação conjugal”, santificação familiar e não de santificação espiritual produzida pela salvação de um homem. O ponto aqui é que você, que foi regenerado, vai exercer um efeito positivo na medida em que sua presença naquele ambiente íntimo, na casa, no casamento… é sustentado pela graça e o poder de Deus para uma nova vida, e a benção de Deus que flui através dessa nova vida, irá atenuar o mal, que num casamento entre incrédulos seria pleno. Ou seja, haverá um efeito santificante num sentido temporal, num sentido terreno sobre o seu cônjuge descrente.
Quantas pessoas estão sendo abençoadas através de nós crentes em Jesus e nem se quer sabem que essas bênçãos procedem de Deus para eles através de cada um de nós.
CONCLUSÃO
Há uma frase muito comum em nosso meio que diz: “Com Jesus no barco tudo vai bem”. Isso é uma grande realidade, mas se nós o chamarmos para nos socorrer e não deixá-lo de lado achando que podemos resolver o nossos problemas sozinhos, ou, na pior das hipóteses, achar que Ele não tem poder para resolvê-lo. Isso é falta de fé. Isso é ser tímido e duvidar. Meu irmão se você está passando pela tempestade clame por Jesus e Ele, com certeza, lhe socorrerá.
Pense nisso!