Pouco tempo atrás recebi um email de um cristão que me fez a seguinte pergunta: “O que posso fazer para tornar-me uma pessoa instruída em ética cristã?”. Acho que essa é uma boa pergunta, evidentemente. Ética não é, afinal, uma coisa sobre a qual apenas os tipos acadêmicos ou pastores têm de pensar. Todo cristão possui um mandato para ser capaz de articular a verdade do evangelho e aplicá-la em cada época da vida.
Aqui estão as três coisas mais importantes que você pode fazer para desenvolver uma ética cristã sólida:
1) Conheça a Bíblia
Conhecer a Bíblia vai muito além de ser capaz de recitar versículos isolados. Há um monte de cristãos que sabem textos-prova específicos, mas não sabem como entender os elementos formativos das Escrituras como um todo. São incapazes de habitar o mundo da Bíblia e ver como aplicá-la às questões éticas e morais em suas vidas, especialmente aquelas questões que consideram novas e difíceis.
Vivemos num tempo em que, por causa de tudo, da tecnologia às mudanças culturais, existem todos os tipos de questões éticas sobre as quais não tivemos de pensar antes. Mas sabemos, como nos diz as Escrituras, que não há nada de novo debaixo do sol, apenas novas aplicações de velhos princípios.
Por exemplo, uma pergunta que recebo de muitos pais é: o que fazer com relação a um smartphone para meu filho pré-adolescente ou adolescente? Esse é o tipo de pergunta que teria soado como ficção científica há vinte anos, caso você tivesse descrito o que um smartphone é e o que ele faz. E podemos especular sobre os tipos de perguntas que as pessoas terão de enfrentar na igreja nos próximos anos, como por exemplo: “O que dizer sobre a inteligência artificial?” ou “O que pensar daquelas crianças na Escola Bíblica de Férias que foram clonadas?”. Essas são perguntas que podem parecer estranhas para nós agora, mas elas estão lidando com questões muito velhas e antigas que estão sendo trazidas para o primeiro plano de uma maneira nova.
2) Conheça as pessoas
Desenvolver uma ética cristã significa entender a natureza humana. E isso significa ouvir e desenvolver empatia pelas pessoas, especialmente aquelas que estão em uma situação diferente da sua.
Uma das coisas de que mais sinto falta desde que deixei o ministério pastoral em tempo integral é o aconselhamento. Quando eu servia como pastor, as pessoas vinham a mim todos os dias em situações de crise. Aconselhá-las através dessas circunstâncias ajudou-me a entender e desenvolver empatia por pessoas em situações que eu simplesmente não tenho de enfrentar – pessoas que têm diferentes pontos de vulnerabilidade ou diferentes pontos de sofrimento dos que os eu tenho.
Posso não ter experimentado o que um viúvo solitário, após a morte de sua esposa, está experimentando, mas ao falar com ele e ministrar-lhe, posso me inserir sua vida e desenvolver empatia por outros cujos entes amados se foram. Quando estou ajudando algum viciado em jogos de azar ou remédios controlados, embora essas não sejam minhas áreas específicas de tentação, não posso mais caricaturar essas lutas, pois estou considerando como essa pessoa pode encontrar cura.
Aproximar-se das pessoas também pode nos ajudar a ver o que está em jogo em nossas próprias vidas. Lembro-me de ter falado uma vez com um casal em que o marido estava tendo um caso extraconjugal. Ele estava sentado na minha frente quando listou todas as razões por que o que estava fazendo não era, afinal de contas, errado. Mas bem ao lado dele havia um bebezinho de seis meses de idade em um bebê-conforto no chão. Era o filho deles. Tudo o que eu pensava era: “Será que você não vê o que seu pecado está fazendo? Não vê o que isso está te custando?”. Mais tarde, encontrei-me pensando sobre essas áreas que não percebo em minha própria vida – esses pontos cegos que aqueles que me rodeiam podem me indicar, mas que eu não posso ver.
3) Conheça grandes histórias
Ler boa literatura, especialmente ficção, é mais importante do que acompanhar atualidades. Não que essas coisas não sejam importantes, mas ler boa ficção pode ajudar você a penetrar nas mentes de pessoas diferentes de você de um modo que é mais significativo do que simplesmente conhecer o que este ou aquele grupo de apresentadores de TV estão dizendo.
Às vezes a ficção pode, a exemplo da estória da cordeirinha, do profeta Natan, despertar partes de nós que tornamos insensíveis, devido à ignorância, preguiça, desatenção ou pecado. Certa noite no carro, a caminho de casa, estava falando ao telefone com minha avó de 86 anos. Ela me contava uma história sobre a última vez que viu meu avô vivo. Falou-me sobre a frieza que sentiu nos pés dele enquanto trocava suas meias na cama do hospital, sobre como seus olhos estavam focados nos dela, embora ele não pudesse falar. Falou a respeito de como, na hora em que as enfermeiras lhe disseram que ela tinha que sair, o beijou, disse-lhe que o amava e que pôde senti-lo observá-la enquanto ela deixava o quarto, pela última vez.
Eu sabia que ela tinha perdido o meu avô. Sei que as pessoas morrem. Sei que “maridos amam suas esposas” (Efésios 5). Mas aquela história despertou algo em mim. Ela me impeliu a segurar minha esposa com uma ternura especial quando entrei pela porta. Tinha imaginado como seria dizer-lhe adeus dessa maneira, e, de repente, todas as pressões diárias das crianças, contas a pagar, reparos na casa e viagens pareceram encaixar-se em um contexto maior. A ficção muitas vezes faz o mesmo. Quando leio A Morte de Ivan Illych, de Tolstoi, adquiro uma simpatia imaginativa com algo que eu poderia evitar na correria da vida: o que é, de fato, morrer. Quando leio as estórias do Condado de Henry, Kentucky, de Wendell Berry, posso ter um vislumbre de como seria enfrentar a perda de uma fazenda da família na Grande Depressão. Esta ficção fornece uma visão maior e mais rica da vida humana.
Se você quer se tornar bem versado em ética cristã, comece com essas três coisas.