Como marido e pai, eu tenho aprendido esta lição do modo mais difícil: o tom como eu falo realmente importa. Não é suficiente dizer as palavras certas. Eu tenho de ser muito cuidados em como digo as coisas. Alguns anos atrás, minha esposa estava compartilhando comigo um fardo muito pesado. Depois de escutá-la por um pouco, eu logo comecei a lhe dar conselhos sobre o que ela deveria fazer. Ela, porém, olhava para mim desolada. “O que houve de errado?”, perguntei. Ela respondeu: “Quem é você agora? Meu marido ou meu conselheiro?”. Aquela foi a primeira pista de que eu estava deixando escapar alguma coisa.
Eu rapidamente descobri que, embora minhas soluções pudessem estar corretas, elas não eram úteis. Por quê? Por causa do meu tom. O modo como eu falava estava, de fato, enfraquecendo minha mensagem. Por mais certo que estivesse, meu tom era um obstáculo no caminho.
Será que essa mesma realidade – a importância do tom – se relaciona com a nossa pregação? É possível que o modo como falamos algo na pregação e no ensino seja tão importante para o sermão quanto para o casamento, a paternidade ou qualquer outra comunicação? Eu proponho que o tom da pregação é muito mais importante do que percebemos. Philip Brooks (1835-1893) disse, de modo célebre, que pregação é a verdade por meio da personalidade. Eu acrescentaria que pregação também é a verdade por meio do tom.
Algumas sugestões
Deixe-me oferecer algumas sugestões à medida que você pensa não apenas sobre o que dizer, mas também sobre como dizê-lo.
Leia a Bíblia prestando atenção ao tom
O primeiro passo é simplesmente ler as Escrituras prestando atenção ao seu tom. A Bíblia é mais do que apenas uma coletânea de afirmações proposicionais. É verdade com tom. E há muitos tons diferentes: conforto (2 Coríntios 1), dureza (Tiago 4.4), lamento (Salmo 13.1-2), deslumbre (Apocalipse 4), sarcasmo (2 Coríntios 11.19), instrução (Romanos 12), alegria (Êxodo 15), indagação (Salmo 22.1), dificuldade (Lamentações 3), sabedoria (Provérbios 1) e descanso (Salmo 23), para mencionar alguns. A beleza da Bíblia se encontra, em parte, na sua variedade de tons.
Faça a exegese do tom do texto
Aqueles de nós que estão comprometidos com uma exegese cuidadosa (espero que sejam todos) fazem bem em examinar atentamente o modo como o autor comunica a sua mensagem. Compreender o tom jamais deve substituir o exame cuidadoso do que a Bíblia está dizendo, mas uma falha em compreender como algo está sendo dito irá, em grande medida, impedir a comunicação de toda a mensagem. Coloque-se no lugar dos ouvintes. Como essa mensagem seria recebida? O que eles ouviriam? É aqui que a leitura da Bíblia em voz alta se mostra bastante útil. Ela pode nos ajudar a ouvir algo que deixaríamos escapar se as palavras fossem apenas lidas e estudadas.
Por exemplo, a ternura do Salmo 23 é muito diferente da tensão do lamento no Salmo 13. O tom de celebração do Cântico de Moisés em Êxodo 15 é um mundo diferente da sombria entrega dos Dez Mandamentos em Êxodo 20. A soberania divina em João 6 é pessoal, ao passo que, em Romanos 9-11, é impetuosa e intrincada. O gênero textual e o tom são vitais para a mensagem e a aplicação de cada texto.