Por Jonas Ayres
Fiquei profundamente incomodado ao assistir o vídeo do programa O Infiltrado sobre magia e o sincretismo religioso brasileiro. Ficou patente o enorme abismo que existe entre a Religião Oficial (ideal) e a Religiosidade Popular (real) praticada em solo brasileiro (clique aqui e assista).
O programa nos apresentou a “saga espiritual” do repórter Fred Melo Paiva, em uma busca frenética para dar solução a um suposto e particular problema financeiro. Desde Mãe Rita, mãe de santo famosa no Rio de Janeiro, passando por terreiros de candomblé, Igreja Católica fundada por negros escravos, Igreja Católica Central de São Jorge e até rituais europeus de magia Wicca, sempre acompanhado do Wilson (um boneco do exu-caveira), nos mostrou a dura e triste realidade em que se encontra a grande maioria dos brasileiros em sua forma de espiritualidade.
Espiritualidade esta que ficou testificada na vida do sacristão da Igreja Católica dos Negros, onde o mesmo não só praticava a magia como incentiva o repórter a assim proceder, dizendo ser absolutamente coadunáveis em sua cosmovisão, a prática do Catolicismo e também do Candomblé ao mesmo tempo.
Esta cosmovisão do sacristão é a que vivem a grande maioria do nosso povo, não somente Católico, mas também evangélico nos dias atuais. Uma fé pautada na superstição e crendice popular, misturada ao catolicismo e religiões africanas e afro-brasileiras, como também animismo indígena, e isso tudo misturado e batido no grande liquidificador da religião brasileira, formam um coquetel religioso gostoso para muitos, mas intragável para aqueles que têm compromisso com as Escrituras Sagradas, a Bíblia.
Nos deixa de cabelos em pé a dura realidade de que a maioria da sociedade brasileira que se denomina cristã beba também a grandes goles deste coquetel religioso e mágico semanalmente.
Aproveitando-se desta religiosidade popular brasileira, vemos igrejas intituladas de evangélicas no nome, mas mágicas na prática, servindo em seus cardápios também, deste coquetel magico. Penso que este seja o “sucesso” destas ditas igrejas neopentecostais, tais como Igreja Universal do Reino de Deus – fundador Edir Macedo, Igreja Internacional da Graça de Deus – fundador R.R. Soares (parente de Macedo), Igreja Mundial do Poder de Deus – fundador Valdemiro Santiago (discípulo de Macedo), e mais recentemente Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus – fundador Agenor Duque (Também discípulo de Edir Macedo, segundo ele próprio).
Todos estes, e outros mais, aproveitando-se desta realidade religiosa que vive nosso país, estão construindo verdadeiros impérios religiosos, cada um oferecendo um suposto coquetel mágico mais completo e poderoso que o outro, que só faz aumentar, acentuar, e viciar de forma inebriante o povo deste país.
Estes líderes se apresentam como especialistas em batalhas espirituais agindo como magos modernos possuidores de unções que controlam “deuses e demônios” para dar a tão sonhada vitória sobre o sofrimento de qualquer espécie e monta a seus seguidores.
Vejo que os pastores sérios desta nação tem um trabalho hercúleo pela frente, onde somente com o auxilio do verdadeiro e soberano Deus e de Seu Espírito Santo poderão, se não reverter, pelo menos, combater e minimizar os efeitos da religiosidade popular brasileira, e isto em longo prazo.
Penso que providencias devam ser tomadas com urgência, tais como:
Primeiro: A criação de mecanismos que protejam a liderança da igreja de se tornarem em imperadores que fazem da igreja do Senhor seus impérios pessoais, e evitando também uma Dinastia Eclesial, como foi o caso de Gideão que ao invés de gritar “pelo SENHOR Deus” tão somente, acrescenta em seu grito de guerra, por GIDEÃO também, revelando neste gesto o desejo de seu coração, ou seja, ser o cara que manda. Em minha humilde opinião o pastor não deve decidir sozinho sobre tudo na igreja local, parece que o sistema de Atos 15:23 “…pareceu bem a NÓS…” (compartilhamento de liderança – concílio de liderança) seja mais profícuo e democrático. O que definitivamente não ocorre nos arraiais neopentecostais e afins.
Segundo: Somente permitir integrar a liderança da igreja, em especial pastores e bispos, pessoas escolhidas com base em seu caráter cristão e não em seu carisma (dons). Porque está mais do que comprovado que o dinheiro muda a todos. Todos.
Terceiro: Enfatizar o ensino de uma cosmovisão equilibrada e bíblica sobre batalha espiritual, fazendo a igreja sair do conceito moderno, iluminista, dualista, onde lidamos com Deus e o diabo em pé de igualdade em poder. A igreja precisa saber definitivamente que só existe um Criador e o resto são seres criados, inclusive satanás e seus anjos caídos. Sendo assim, devemos aplicar melhor o conceito de Soberania divina, que Deus não apenas esta no controle, como Ele nunca o perdeu. Como bem nos disse Lutero, até mesmo o diabo, é o diabo de Deus!
Quarto: Como pastores, precisamos ensinar que nossa maior arma é a dependência absoluta aos desígnios deste Deus que é soberano, e que assim como Jesus Cristo viveu nesta dependência, nós também deveríamos viver. Do contrário, nunca descansaremos desta “roda viva” religiosa, vivendo como um hamster, correndo sempre atrás da promessa de algum queijo gostoso pendurado tão perto, porém jamais alcançável. Assim podemos romper definitivamente com este sistema religioso mágico, libertando este povo sofrido desta condição miserável de superstição religiosa. Porque se tem alguém vendendo coquetel mágico é porque tem gente querendo comprar, e quanto maior o sofrimento de um povo, maior o consumo deste tipo de bebida.
Encerro pedindo que Deus nos ajude nesta difícil, mas possível tarefa de desconstrução da religiosidade popular brasileira, para uma reconstrução de uma cosmovisão bíblica centrada no Evangelho e na busca não apenas da salvação da alma no por vir, mas em restaurar o “Shalom de Deus” para a humanidade, seu projeto original.
Que Ele nos conceda graça para isso.
Fonte: NAPEC | Ministério Beréia http://ministeriobbereia.blogspot.com.br/