Muitas igrejas evangélicas têm se esforçado por encontrar estratégias que as capacitem a alcançar efetivamente as pessoas com o evangelho de Jesus Cristo. A despeito da rica herança de ensinamento evangélico neste continente, há um senso de desencorajamento, até de desânimo, entre muitos cristãos quanto às perspectivas para a evangelização em nosso tempo. Por isso, uma variedade de modelos pragmáticos tem sido empregada para garantir o sucesso na comunicação do evangelho.
Contudo, antes de a igreja evangélica sucumbir à tentação de conceber estratégias que acomodem o evangelho ao espírito desta época, precisamos ouvir cuidadosamente a carta de Cristo à igreja em Filadélfia. Nessa carta, Cristo fala a uma pequena e encurralada igreja, assaltada por feroz oposição à sua confissão cristã, e calorosamente lhes assegura que poria diante deles uma “porta aberta” de oportunidade para o testemunho de seu nome (Apocalipse 3.8). Por causa de seu firme apego à verdadeira confissão acerca de Jesus Cristo, o testemunho da igreja em Filadélfia será um farol a conduzir os seus membros e outros à comunhão com o Deus vivo e à entrada em seu templo-santuário.
O arranjo dessa carta em muito se assemelha ao das outras. Ela começa com uma importante identificação do autor da carta, o qual sozinho detém a “chave de Davi” e possui a autoridade para conceder entregada no reino de Deus (v. 7). Então a carta estende uma palavra de encorajamento à igreja em Filadélfia, prometendo uma “porta aberta” de oportunidade em vista de sua obstinada perseverança (v. 8). E conclui com uma rica segurança de comunhão com o Deus vivo em seu eterno templo-santuário.
O modo como o autor dessa carta identifica a si mesmo apresenta um pano de fundo especialmente importante para a sua mensagem. As palavras dessa carta vêm daquele que é “o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá”. “Santo” e “verdadeiro” são atributos divinos na Escritura e no livro do Apocalipse (6.10). Cristo, assim, assegura os cristãos da Filadélfia de que suas palavras têm autoridade divina. O próprio Cristo é a verdadeira testemunha cuja palavra é absolutamente confiável. Os destinatários dessa carta são assegurados desde o princípio de que Jesus é o verdadeiro Messias e de que o testemunho deles acerca de Cristo é completamente verdadeiro.
Essas palavras iniciais de identificação são reminiscentes da linguagem que identifica Cristo em Apocalipse 1.18. Elas também invocam explicitamente a linguagem de Isaías 22.22, onde Eliaquim é identificado como o servo do Senhor a quem havia sido outorgada autoridade para administrar as chaves de acesso à casa de Davi. O que Isaías profetizou acerca de Eliaquim prenunciava Jesus Cristo, que tem autoridade absoluta sobre a chave da casa de Deus e do reino eterno. Ninguém, seja judeu ou gentio, entra na casa de Deus ou tem lugar entre o povo de Deus a menos que Cristo lhe conceda acesso ou entrada.
Com essas notáveis palavras de identificação ressoando em seus ouvidos, a carta se volta à promessa que Cristo estende à igreja em Filadélfia. Cristo “conhece” as obras dela. Ele está ciente de que a igreja em Filadélfia era, quando vista sob a perspectiva de números ou de prestígio social, uma igreja de “pouca força” (Apocalipse 3.8). Contudo, essa igreja havia “guardado” a palavra de Cristo e não havia “negado” o seu nome. O seu testemunho da verdade acerca de Jesus havia permanecido firme, mesmo quando aqueles da “sinagoga de Satanás” se opuseram ao seu testemunho e confissão de Cristo.
A essa igreja fiel Cristo promete uma “porta aberta” de oportunidade para o testemunho do evangelho da salvação por meio da fé em Jesus Cristo, o verdadeiro Rei do povo de Deus. Por causa de sua perseverante fidelidade ao evangelho, essa igreja, localizada numa posição geográfica estratégica no mundo antigo, desfrutará do privilégio de chamar tanto judeus como gentios a reconhecerem Jesus como Salvador e Senhor. O Cristo, que detém a chave da entrada no reino de Deus, reassegura a essa encurralada igreja que ela será singularmente privilegiada no testemunho e na missão do evangelho.
Porque a igreja em Filadélfia guardou a palavra de Cristo com paciente resignação, ela pode estar confiante de que será poupada na “hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro” antes da vinda de Cristo. Essa segurança, ao contrário da interpretação de alguns, não é uma promessa de que os crentes em Filadélfia serão “arrebatados” antes de a hora da provação chegar, mas sim que eles serão preservados em meio a toda prova que vier. Nada os separará do amor de Deus em Cristo. E, assim, à medida que eles seguram com firmeza a sua “coroa”, são encorajados a olharem adiante, para o futuro, quando eles e todos aqueles que compartilham da sua fé em Cristo habitarão na presença de Deus para sempre.
A mensagem dessa carta à igreja contemporânea é surpreendentemente clara. Nenhuma mensagem poderia ser mais relevante para uma igreja evangélica sob risco de perder a fé no antigo evangelho e em seu poder de transformar pecadores segundo a imagem de Jesus Cristo.